sábado, 26 de dezembro de 2015

Se o intercâmbio mudou a minha vida..

                         

              Outro dia, um amigo disse que o intercâmbio é um acelerador do tempo. Como não concordar com isso, se nos últimos meses vivi mais do que havia vivido durante muitos anos da minha vida?
            Aqui tudo muda, todo dia, toda hora. Você se acostuma com a presença de pessoas em sua vida, elas, inevitavelmente, voltam para os seus países de origem. Você se acostuma com seus colegas de aula e professores, muda de nível e La vai tudo mudando de novo.
Muitos falarão que a vida é uma constante mudança, mas aqui tudo é muito intenso. Tudo é vivido a flor da pele. Do dia pra noite, conhecidos viram amigos, melhores amigos viram família, e família.. ah, a família acompanha a gente numa saudade imensa dentro do peito todos os dias.
            Se o intercâmbio mudou a minha vida? Sem duvida. Não sei o porquê, mas esse tempo, longe de tudo e de todos que nos são conhecidos, nos faz refletir e nos faz criar conexões com pessoas que nunca imaginamos. O desconhecido já não assusta mais tanto. Na verdade, passamos a nos auto-conhecer muito melhor. E isso não tem preço. Talvez, seja culpa do acelerador, que nos fez amadurecer na marra. Dividir o quarto, a casa, não ter privacidade, ter que ter autonomia, não poder ligar pro pai, mãe, amigo, namorado na hora do aperto, é você e você. Não que você não tenha amigos aqui, mas chegamos aqui sem nada e sem ninguém. E vamos voltar, certamente, com muito mais bagagem. Uma mala cheia de roupas da Penneys? Certamente que sim. Mas, principalmente, com uma bagagem que mala nenhuma pode carregar. Nos abrimos para nós mesmos e, assim, nos abrimos para o mundo.
            Descobrimos, por entre esses dias corridos, que a vida é agora. Que o tempo passa muito rápido e se não o aproveitarmos estaremos logo de volta a nossa zona de conforto. À casa dos nossos pais, à cidade que sempre conhecemos, aos eternos amigos que ficaram.
Eu acredito, que todo mundo, uma vez na vida, deveria passar por uma experiência como essa. Experimentar coisas novas, testar seus limites, saber até onde sua capacidade de se adaptar ou de se reinventar vai. 


          




           Eu desenvolvi aqui uma ânsia por viver. Ânsia por viver a minha vida, por aproveitas as oportunidades que a vida me ofereceu. Parece que até esse ponto da minha vida estava vivendo um script. Estava seguindo a cartilha que a sociedade e a minha família me deram e eu aceitei, achando que aquilo era o certo pra mim, que aquilo era o melhor a fazer. Mas, depois de passar por todos os capítulos da cartilha e chegar na parte do bom emprego em uma boa empresa, com um salário suficiente para me manter bem financeiramente.  Eu, de repente, comecei a me indagar : eu estou feliz? É isso que eu quero para o resto da minha vida? Só me resta casar e ter filhos agora?
E se eu disser que sou mais feliz sendo cleaner aqui na Irlanda do que farmacêutica no Brasil, as pessoas vão achar que eu sou louca?? Provavelmente...
          Ninguém volta ileso de um intercambio. Mãe, pai, sabem aquela pessoa que vocês deixaram no aeroporto pra pegar um avião para a Europa? Pois é, ela não existe mais. Graças a Deus, eu diria.
E o intercambio faz isso com a gente,muda nossa maneira de pensar, de agir, de ver o mundo, de ver nós mesmos, as diferentes culturas ao nosso redor.  Aqui a gente mergulha pra dentro da gente mesmo e se descobre muito mais forte, muito mais capaz, muito mais A gente mesmo. A gente se assume, em todos os sentidos, sem medos, sem paranóias, sem se importar com o que os outros vão pensar de nós, afinal, ninguém aqui sabe como éramos antes, certo?
            Vim para uma cidade que apesar dos muitos brasileiros (o que tem seu ponto positivo e negativo) tem pessoas de todos os lugares do mundo. Você aprende que precisa se adaptar, e rápido. As coisas não vão se ajeitar porque você foi chorar no colo da sua mãe, se você quer algo, você tem que correr atrás. É você por você mesmo.
               E acho que é daí que vem essa força, essa vontade de crescer, de mudar, de mostrar pro mundo que eu sou capaz, que o mundo é o limite pra mim. Que eu não sou melhor que ninguém, mas consigo, sim, ser melhor que eu mesmo.